terça-feira, 26 de março de 2013

Decifro-te!



Diário do Eu sozinho 26/03/13
Quase lá...

.

Lembrando a máxima “decifra-me ou te devoro” proferida pela esfinge, começo a perceber a pérola que ganhei dos céus ao vir para Paraíso.
Ao começar este diário escrevi que havia achado o máximo a ideia de Jane Fonda a respeito dos 3 atos da vida e como o conhecimento do passado pode nos ajudar a pensar nosso presente e consequentemente fazer opções diferentes para o futuro.

Quase duas semanas depois me cai finalmente a ficha de que é exatamente isso que estou tendo a oportunidade de fazer. Começo a enxergar nas entrelinhas as dádivas que recebemos e não aproveitamos por não entender. O Apego pela perda do companheiro, seguida pela perda do pai foram tamanhas que não consegui deixar ir. Não consegui enxergar que o que me estava amargurando era o apego a vida que eu antes levava. Sem conseguir enxergar as novas possibilidades que se abriram agora.

Enfim, não conhecia o significado desta música de Yael Naim, mas ao ouvi-la hoje resolvi ir atrás de sua tradução e era isso o que estava procurando pra traduzir o que estava em meu coração.

Esta eu dedico ao grande homem em minha vida que foi meu Pai.
Esta eu Dedico ao grande homem que escolhi pra ser pai de meu filho,
Mas que assim como o primeiro, meu modo de amar se incumbiu de afastar.



Levater (hebraico)
Kama keasim shamarti bimyuchad lecha
Ata yakar li
Kama merirut asafti bimyuchad bishvilcha
Ata hachi yakar li

Ratsiti ladaat levater lecha

Kama machshavot preda sin'a betoch kol ze
tsomachat lanu ahava
Kama sipurim leorech hashanim im rak yadati kama
ani shkufa lecha

Ratsiti ladaat leshaker lecha

Kama peamim salachta li
Haim ani salachti gam lecha
Davka hamilim habehirot hechliku li mimeni mitachat lasafa

Ratsiti ladaat ledaber itcha
Ratsiti ladaat lesaper lecha
Ratsiti ladaat lihiyot lecha
Ratsiti ladaat leragesh otcha
Ratsiti ladaat leehov otcha

Renunciar
Quanta raiva eu guardei especialmente por você
Você me é precioso
Quanta amargura eu acumulei por você
Você é o que há de mais caro

Queria aprender a renunciar a você

Quantos pensamentos,
Separação, ódio, mas em tudo isso florece o amor
Quantas histórias ao longo dos anos, se ao menos eu tivesse sabido
Até que ponto eu te sou transparente

Queria ter sabido mentir para você

Quantas vezes você me perdoou
Será que eu  também te perdoei?
São exatamente palavras claras que me escaparam da boca

Queria ter sabido falar com você
Queria ter sabido te contar
Queria ter sabido ser por você
Queria ter sabido te emocionar
Queria ter sabido te amar


Desapegos à parte acho que enfim consegui dizer adeus e renunciar. Consegui entender o enigma da esfinge e fazer uma leitura mesmo que perneta de tudo isso que me acometeu nesses últimos dias...
Estou recebendo uma chance de fazer este segundo ato da minha vida ser realmente diferente do que presenciei em casa nestes últimos anos, tendo a oportunidade de encarar o drama existencial que tenho representado continuamente nos passados 33 anos que me trouxeram até aqui.


É uma oportunidade riquíssima e quase que perco a noção por estar tão apegada ao que já conhecia, que deixaria tudo escorrer pelas mãos, parada em uma estação onde nenhum trem mais vais chegar. De onde caminho nenhum segue. É uma estação final. Agora é necessário pegar ou deixar as malas e seguir a pé por entre as nuvens até o Paraíso e caminhar pela terra vermelha e olhar as coisas e pessoas nos olhos da alma de quem busca. 

Até a próxima queridas esfinges.
Que em nosso próximo encontro, por que sim, vamos nos encontrar de novo, eu esteja mais serena e mais plena de mim mesma.

Encerro a postagem de hoje com outra  música chamada Paraíso e tem a ver com a menina/Larva que acaba de se transformar no casulo. 
Uma nova mulher está prestes a romper a película que a separa de um novo mundo.



Funciona assim, você aperta o play nessa música aqui e 
viaja nessa imagem daqui... hehehee
Paradise.


Buenas noches muchachos!!!

Dog days are over

Diário do Eu sozinho 25-6/03/13

Outra segunda ... Que se torna terça... Ok...

Entre tantas tarefas, o dia de hoje foi pontuado pelos cuidados com a mãe, a ida ao hospital, a visita da tia e do primo e o treinamento da sister`s keeper nurse... o dia correu tranquilo. Conversei com amigos, encomendei um mapa astral, marquei a visita no vidente...heheheh

Entre tantas coisas, deixei de escrever alguns dias mas a contagem continua. 20 dias. ok... não foram 20 postagens, mas se for por numero de contas eu chego lá.

Só volto ao Rio dia 8 de abril... até lá, continuo nessa experiência transcendental de me comunicar com parentes vivos e mortos, realizando uma intensa pesquisa sobre de onde vim, ou melhor, de quem eu vim.

Hoje mesmo descobri quem era a Senhora enterrada com meu avô Paterno e meu tio. Era realmente a bisa, mãe do vô. a senhora Ezótica. (exótico não?) Daí vem com certeza o senso de humor da família...hehehe...
Bisa Ezótica...

Gente... que figura...descobrindo o lado paterno...

Bom, a demais, revendo os amigos e vendo as revistas sociais da cidade fiquei feliz em constatar que estou muito bem e em forma e que os meninos da minha turma não se conservaram tão bem... achei graça de algumas fotos que vi... meninos tão lindos quando nós éramos novos, que eram inclusive bem disputados, tão gordinhos, alguns carecas, a grande maioria muito barriguda...heheheh... me diverti vendo o povo hoje no consultório enquanto esperava o laudo dos exames da mãe...

Enfim, resolvi que vou aproveitar as férias forçadas e vou me cuidar também. Já que estou aqui, lá vou eu...hehehe dermo, angio,cardio (afinal ele passou apurado esses dias né) nutricionista e gino, aproveitar e já fazer o preventivo do ano...heheheh... quem vê até pensa: 

- Limpando o salão pra festa né?

- Sim. E por que não? Afinal está vago ou não está?

Essas coisas não podem ficar sem uso senão estragam...hehehehehe... que bobagem... mas o cuidado é bacana e necessário. Resolvi terminar de costurar minhas feridas e cuidar da cicatrização.

Afinal, para 28 dias falta uma semana. Hora de começar a forçar o casulo. Está chegando a hora de renascer.

Recebi uma canção de um amigo que me apresentou uma cantora híbrida da Bjork com a Adele...hehehe se chama Florece + the maschine.
 É com ela que encerro o dia de hoje.



Dog days are over...
How I like this idea...
Good night Folks!!!


Leve

Diário do Eu sozinho 25/03/13

Ok... essa postagem se refere ao domingo. Que passei literalmente na cozinha preparando o almoço para nosotros...hehhee, ouvindo o disco do Chorus Line e fazendo arroz com brócolis, salada verde e peito de frango assado. Pra acompanhar suco de uva com pêra, feito em casa e divinamente doce.

Tarde linda de sol, preguicinha de digestão e muita calma nessa hora. Sucos naturais a parte, no fim do dia me senti um pouco estranha...

Precisava dormir mais... e dormi.

Acordei meio torta na segunda dia 25... ai ai... mais uma segunda heheheh.

Quase não pensei na vida do Rio, distante de mim agora, mas ao ouvir essa canção



Não pude deixar de pensar em alguém. Pensei que ele cantava pra mim e sorri muito com os olhos doces. E agradeci mais uma vez ao chico que sempre me disse tanto em tantas horas.

Estou terminando minha despedida. Já não me ligo mais, nem escrevo, nem palpito ao entrar no face. não me doem mais as fotos, nem me incomodam os comentários. Estou passando.
Ou melhor, está passando. Você está passando. E eu estou voltando a ser leve.

Este diário, não tão diário está se transformando de novo. E logo logo minhas peripécias terão de se expressar em outro lugar. 

Longe do sozinho e próximo de Deus.

Ho o pono pono...

HAWAI.

sábado, 23 de março de 2013

Tarde de sábado

Diário do Eu sozinho 23/03/13


Hoje minha irmã chegou e pude enfim ter um tempinho maior pra mim. Pedi licença e fui caminhar. Precisava espairecer, respirar ar puro, mexer as pernas tão acostumadas a atividades e tão confinadas nos últimos dias.

Tomei a rua de frente ao prédio e segui a passos largos seguindo o fluxo natural do movimento. Andei umas boas quadras até um ponto em que a rua se bifurcava, segui então pela  direita até o cemitério, onde resolvi visitar meus parentes e o jazigo da família onde um dia eu também vou estar.

Entrei no cemitério e me deparei com um velório na primeira capela, onde inclusive fora o velório do meu tio e lá vi um caixãozinho tão pequeno e um pai completamente arrasado ao lado, inconsolável, nem conseguia erguer a cabeça. Pensei que aquilo me comoveria, mas estranhamente passei tranquila pelo caixãozinho e pensei que deve ser muito triste ter que enterrar uma criança tão pequena, mas pensei. Não senti. Me surpreendi comigo mesmo pela leveza que envolvia  e a mim.

Segui pelo corredor onde encontrei uma funcionária que concordou em ir até o jazigo do Tio que faleceu e eu não pude ver. Nunca havia visto o Jazigo da Família do Pai. Foi uma descoberta interessante. Tive um pensamento maldoso para com o Pai. Um palpite de por que ele não quis ser enterrado aqui. 
Papai era um homem muito vaidoso, o Jazigo muito simples em cimento cru, pintado de azul claro não devia ser o que ele imaginava pra si mesmo... Lá encontrei os nomes do meu Tio, meu avó paterno e de uma senhora que suspeito ser a bisa.  Só não sei se mãe do vô ou da vó...

De lá segui para o jazigo da família de minha mãe, onde estão meus avós maternos e meu tio que faleceu recentemente. Como não pude sequer ficar na cidade no dia do enterro dele devido a uma estréia no dia seguinte, aproveitei para me demorar ali.

Me sentei ao lado das fotos do vô e da vó e fui tomada de uma paz tão intensa, de lá se via um céu tão imenso e lindo e azul... as nuvens carregadas de uma chuva que já se se anunciava, o calor do sol e seu brilho intenso refletido nas mesmas nuvens. Recostei a cabeça no jazigo, cerrei os olhos  e senti que tudo ficaria bem. Não cheguei a conhecer minha vó materna, mas fui inúmeras vezes quando criança lavar seu túmulo e levar flores. Naquela época existia uma árvore que fazia sombra no jazigo e teve de ser derrubada por causa das raízes que estavam invadindo o túmulo ( acho isso divertido mas a administração com certeza não achou.) 






















Hoje o sol bate diretamente no mármore, que estava 
bem quente quando me sentei. Senti que ali atrás do túmulo deveria existir uma árvore ou um arbusto para fazer sombra. Então decidi buscar um arbusto ou árvore que faça sombra, mas não tenha raízes muito abertas para poder crescer sem prejudicar o túmulo. Assim que encontrar volto ao cemitério pra lavar o túmulo, levar flores e plantar uma árvore para que daqui alguns anos volte a ter uma pequena  sombra sobre o tumulo. Senti vontade de cuidar daquilo.

Não sei quanto tempo fiquei sentada ali somente olhando pro céu, sem pensar em nada, apenas me sentindo em paz, tranquila, como quem entende e aceita o que está por vir, não com resignação, mas com afeto e gratidão. É como se eu sempre estivesse estado ali. A olhar aquele céu tão lindo.

Ao sentir que a chuva estava muito próxima, fui até o cruzeiro das almas e de lá segui em linha reta até a saída. O cemitério daqui me é tão familiar e aconchegante que não tenho dúvidas sobre pra onde quero ser levada quando meu corpo se modificar.

Quero que ele permaneça nessa morada até se tornar definitivamente pó e se dissolver no ventre chão da terra mãe. 

Sinto que meu esvaziamento está agora próximo do fim. Meu ventre já se renova e meus pensamentos já não pairam sobre os mesmos assuntos. Meus sentimentos se apaziguam e o que sinto é uma distância tão grande de tudo o que vivi nos últimos anos que nem parece que era eu...



A metamorfose continua.

E a busca pela árvore se inicia.

Buenas...

sexta-feira, 22 de março de 2013

Vislumbres pela neblina...

Diário do Eu sozinho 21/22 do 03/13


Silêncio...


Ontem foi um dia muito cheio. Tive muitas coisas pra resolver. Desde que cheguei em Minas virei um misto de enfermeira secretária babysiter de cachorro com uma pessoa tentando levar a vida depois de algo meio (na verdade quero dizer muito) doloroso. Mas enfim, a vida segue.

E segue mesmo. Então, ontem a noite, ao entrar no Facebook, por onde tenho tentado manter contato com os amigos e pessoas que fazem parte do meu cotidiano normalmente constatei que a vida realmente segue e existe algo de estranho nisso. De repente senti que muito pouco de tudo aquilo que via me dizia respeito. Até uma semana a trás me sentia tão integrada e atuante e sinceramente conectada com o que via e escrevia e compartilhava e ontem ao abrir a página do Face fui surpreendida. O mundo seguiu e eu constatei que eu não.

Me senti a parte de tudo o que vi e li e compartilhei forçosamente como quem toma uma sopa necessária a convalescência, mas de sabor intolerável. A alegria e vivacidades alheias, antes tão prazerosas de acompanhar, as causas políticas antes tão necessárias de se engajar, os absurdos tão impossíveis de não me chocar... Tudo me doía com a violência de quem esmurra um caixão de vidro enquanto vê o mundo lá fora. Me senti presa. Pior que isso. Me senti em Silent Hill.

Me levantei do computador e fui até a sala de onde constatei uma neblina tão intensa que realmente por alguns instantes julguei estar em Silent Hill. Temi por alguns segundos o modo hell... as coisas já andam tão estranhas, nem quero pensar em um modo hell...

Resolvi botar um cd do Supertramp pra ver se meu astral melhorava um pouco.

Fui resgatada por meu irmão que me enviou um vídeo engraçado. Mas fui nocauteada por outro que também tinha a mesma intenção mas desceu errado.

Como água que nos engasga. Desafoguei e chovi por um tempo.

Que acontece??? O que acontece comigo???

Parece que fui arrancada da minha vida. E não entendo o enigma dessa fase.

Onde está a lição que não vejo? É como se me quisessem dizer que não fui grata o suficiente pela vida que tinha, que era feliz e não sabia. Mas eu sabia e sempre fui muito grata. Mesmo xingando tanto por tão pouco às vezes. O problema é esse?

Não deveria reclamar tanto?

Não deveria me irritar tanto?

Deveria ser mais mansa?

Não entendo o que devo apreender disso tudo.

É realmente como se tivessem me tirado de minha própria vida para que eu a olhasse de longe como a um estranho.

Me sinto perdida, sinto falta de como vivia.

E ao mesmo tempo, não entendo o que a vida quer que eu seja. Eu sei quem sou?. Por que isso parece ser um problema pros demais. Por que preciso ir contra a corrente?

Nada faz muito sentido ultimamente.


Então encontrei uma série de videozinhos feitos em meados de 2005/2006 logo que deixei Uberlândia e me relembrei do quanto sofri ao deixar a cidade onde pude pela primeira vez em minha vida ser eu mesma e viver minha própria estória. A música pode até ser o auge da pieguice mas é legítima.


 

Então me deparo com uma série de lembranças de quem já fui do que já construí e vivi e deixei e me perdi e voltei a construir e parei e voltei e sumi e apareci e voltei a construir...Tão cansativo...


Gosto tanto de estar comigo mesma e fazer a única coisa que realmente tenho prazer nessa vida que é me expressar seja dançando, atuando, cantando, cozinhando ou fazendo qualquer outra tarefa e isso em si é tão bom.

Às vezes tenho a nítida sensação que eu deveria ir pruma tribo de índios hight tech.

Modus opernadi indígena num mundo de recursos e facilidades tecnológicas.

Pra mim seria uma junção interessante.

Um lugar onde aprecisássemos a companhia uns dos outros e compartilhássemos o que de melhor sabemos fazer.

Construir, desenvolver ferramentas, plantar, pesquisar e desenvolver substâncias curativas, desenvolver formas de alimentos melhorados, enfim, toda a gama de profissões desenvolvidas em prol de nós mesmos e compartilhadas com todos. Ao invés disso vejo uma multidão de trabalhadores infelizes hipnotizados por uma mídia violentamente invasiva e desgraçadamente eficiente em gerar ilusões de felicidade instantâneas e superficiais extremamente caras o bastante para mantê-los escravizados.

Se eu fosse um pedreiro acharia bacana se em troca do meu trabalho na comunidade, construindo casas, pontes, locais de diversão coletiva, tivesse meu pagamento em alimentos, tratamento de saúde, segurança , roupas e outros materiais de uso diário, aulas de várias disciplinas desde as fundamentais as mais diversas, dependendo do meu gosto, como aprender música ou outras línguas, ver o futebol ou a pescaria. Usufruir de tecnologias inventadas e desenvolvidas por outros cujo prazer seja fazê-los. Ao invés de receber o equivalente (valorado por quem mesmo???) em dinheiro e ver minha família passando necessidades e sendo humilhado como um ser inferior, que virou pedreiro por que não teve condição de “ser”alguém melhor.

 Assim, aquele que literalmente constrói o mundo que habitamos é inferiorizado em detrimento de outros que  prometendo vantagens e benefícios, inúmeras coisas das quais não precisamos, inúmeras leis que não funcionam, recebem o seu equivalente numa balança que manterá por toda a eternidade o primeiro em estado de escravidão e miséria. 



Nem cheguei nas artes que normalmente levam a fama dos vagabundos. Pela minha lógica o mundo está muito doente,pois, a maioria de seus habitantes vive em miséria quando existe tanta abundância. Pela minha lógica eu estou tentando ficar sã. Mas é um a tarefa árdua.

Filosofias a fins. A cruz pode até ser o caminho, mas não é nada confortável.

Que ao fim desta fase, ao encontrar finalmente o chefe, eu tenha as respostas necessárias pra seguir adiante.
Encerro o dia de hoje com essa canção do Supertramp.

Buenas!

terça-feira, 19 de março de 2013

Flautas Peruanas.

Diário do Eu sozinho 19/03/2013

E agora josé???
                                                               

Difícil continuar no exercício constante de escrever este diário.
Não verbalizei na última postagem e sequer fiz uma postagem específica para o fato, mas, meu pai faleceu no dia 14 de março e de lá pra cá as coisas ainda estão se ajeitando.
Ironicamente meu luto pela separação parece ter atraído o luto pelo falecimento real de alguém próximo. Ironicamente um dia depois de realizar a solene missa de sétimo dia pelo término de minha relação, tive de me deparar com o início do luto pela morte de meu pai. Ok? Tudo de novo?
Não.
Dia 15 a família se reuniu no Memorial do Carmo para velar o corpo e eu para me despedir, pois sabia que no dia seguinte seria muito difícil dada a movimentação das pessoas e o ciúmes e possessividade exarcebados da digníssima viúva. Meus sentimentos estavam muito mais para uma raiva contida do que pra melancolia e pra tristeza profunda que normalmente toma as pessoas em situações como essa.
Em dado momento vieram dizer que iriam fechar a capela por que a viúva não se sentia bem e queria ir embora. Nesse momento minha raiva não se conteve e nos braços do meu irmão caçula eu desabafei que aquilo não era justo. Que durante toda a nossa vida fomos apartados por diversos motivos e raramente conseguíamos estar juntos, eu, meu pai e meus irmãos. Que nem morto, em pleno velório isso era possível. Em curtas e claras palavras :

- Que porra é essa? Será possível que nem o corpo dele morto vão nos deixar velar ? Vão à puta que os Pariu!!!

Um bom chôro depois e já mais calma um amigo contou como seria a solenidade da cremação e finalizou contando que ao término toca uma musiquinha incidental com flautas peruanas... Rimos muito, tanto que minha irmã entrou na capela pra perguntar se a risada era minha ao que respondi que sim e completei advertindo-a de que era melhor ouvir minha risada do que ter ouvido o chôro.
As 22:00 fecharam a capela. Poderíamos até ficar se quiséssemos, mas ficaríamos trancados... Trancados com o Pai morto numa sala gelada (o ar condicionado estava a toda!) sem um gorozinho, nem um baralhinho??? Resolvemos ir todos pra casa e voltarmos de manhã cedo.
Em casa conversamos e bebemos até muito tarde, aproveitamos da companhia uns dos outros e demos algumas risadas mas a conversa foi mais tranquila e com certeza o vinho nos fez dormir melhor.
Sábado, às 8da manhã já estavamos na capela. Como a viúva também, dividimos a atenção e nos preparamos para a solenidade que seria dali a pouco.
Antes de fecharem o caixão beijei pela última vez a testa do pai, fria e inerte naquele mar de crisântemos brancos.
Fecharam o caixão e chorei abraçada ao meu irmão caçula. Pensei que não veria mais aquele rosto que fora tão amado por mim a vida inteira.
Entramos nos carros e seguimos o rabecão pelo cemitério até chegarmos no local da cremação.
Um monte de pessoas estranhas acompanhavam seus entes recém falecidos serem cremados e aguardavam para receberem as cinzas. Um ambiente completamente desconfortável e desconcertante.
Em meio ao chôro alheio a burocracia fria de quem lucra com a morte nos impunha uma postura firme e enérgica para com nossos próprios sentimentos de pesar. Assinamos documentos, fomos avisados sobre o valor do aluguel do Caixão (sim, aluguel, o caixão não é cremado. Se bobear nem a roupa do morto...) e de quando poderíamos buscar as cinzas que vem num saco plástico dentro de uma sacola de papel, a não ser que você compre uma urna. A última facada. Segunda minha grande Tia : 

- Será que a família não pode trazer seu próprio recipiente? Tipo a quentinha só que no caso, Friinha?  

Mal estares a parte, chegou enfim a hora da solenidade, ou como diria minha mãe, celebração.
Entramos em uma sala com cadeiras dispostas de frente a uma esteira rolante onde se encontrava o caixão, adivinhem? Com a tampa aberta. Oi de novo!  

Um cheiro muito estranho tomava  conta do lugar, eu juraria que meu olfato apurado estava sentindo cheiro de gente cremada, mas como ninguém mais parecia estar se incomodando com o fato, considerei que eu poderia estar me auto induzindo pelo momento, Psicodélico eu diria, aquilo estava parecendo filme do Terry Gilliam.
Me posicionei junto ao meu irmão caçula ao lado do caixão, na altura do quadril, pois a cabeça já descoberta, consolava a viúva inconsolável em prantos. Não foi possível chegar mais perto que isso. A viúva chorava descontroladamente enquanto no corredor onde estava a esteira, a fornalha fazia sons estranhíssimos e meus pensamentos se tornaram focados em se despedir daquela figura paterna dizendo-lhe que fosse embora em paz e em luz, que estaríamos bem daqui por diante e que se houvesse algum "lá" ele olhasse por nós.
De repende distingui dentre chôro de viúva, barulho de fornalha e meus próprios pensamentos, a musiquinha incidental com flautas Peruanas... Olhei pro meu irmão caçula que também havia reconhecido o som e disfarçadamente rimos e fomos nos sentar junto aos outros.
Depois de dois arranques mal sucedidos, a esteira enfim se moveu e lá se foi o caixão com o Pai dentro. 
Agora sim era pra sempre.
Novo Chôro. 
Levantar e continuar a caminhada sem a presença daquele que foi marcado pela ausência em nossas vidas.
O que demais se sucedeu, entre conversas e desabafos, situações e delicadezas, foi isto e haja dito que o que não se disse não se dirá mais.
Saí da solenidade com o coração leve e com o pensamento tranquilo. Se existe um Deus, ele foi muito generoso comigo ao me permitir perdoar a quem por muito anos me feriu.
Assim, só me restou a tarefa de prosseguir e levar comigo o que foi bom.
E o resto do que foi é sido.
Agora sinto que posso retomar esse Diário do Eu sozinho que não está só.

À Todos que lerem este texto, ao me verem, não me deêm condolências. 
Me abracem forte e me olhem nos olhos como quem abraça à um amigo que esteve longe por muito tempo.

Eu voltei.

 

segunda-feira, 18 de março de 2013

Vertebræ By Vertebræ

Dia´rio do Eu sozinho 17/03/13


Depois do dilúvio





Acima do dedo do pé
Há um vista
Acima do dedo do pé
E da espinha
Reta e ereta
Faminta e curiosa
Acima do dedo do pé
Buscando por
...o ar é rarefeito aqui...
Ela veio aqui para se desfigurar
Caiu de joelhos
A fera está de volta
Sobre quatro patas
Ajusta o seu relógio com a lua
Levanta a sua espinha
Vertebra por vertebra
Acima do dedo do pé
Procurando...
Eu fui preenchida com
Vapor por meses, por anos
A mesma velha nuvem
clautrofóbica em mim
Deixe explodir
como sons de um velho trem
Faça-os  sairem de mim, natureza
Vertebra
por vertebra
por vertebra
por vertebra
por vertebra
Meus braços escorrem dos meus ombros
E os braços se escorrem dos meus ombros
Eu enrolo minha cauda
Pra dentro, pra dentro
Ajusto meu relógio com a lua
Vertebra por vertebra
Por favor, tire
Esta pressão de mim
Por favor, tire
Esta pressão de mim
Por favor, tire
Esta pressão de mim.


Gute Nacht.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Metamorfose Ambulante

Diário do Eu sozinho 13/03/13

O dia em que comecei a descamar.

Não é fácil trocar de pele. Quem já viu cascas de cigarras e casulos de borboletas sabe do que estou falando. Nós humanos trocamos constantemente de pele. Ela está em um processo contínuo de descamação e renovação. A RENOVAÇÃO CELULAR DA PELE  em uma pessoa saudável acontece mais ou 
menos uma vez à cada 28 dias. Assim podemos dizer que a cada mês temos uma pele novinha em folha pra desfilar por aí... 
Peelings e outros procedimentos invasivos à parte, gostei de saber que esse período coincide com o período menstrual que também dura em média 28 dias. O que coincide com o período de luto pregado por moisés. 30 dias. Um mês. 


Como sempre fui uma pessoa ligada a Perséfone e sua introspecção e reflexão, me dei o período de sessenta dias pra recolocar minha vida e minha pessoa nos eixos (móveis da vida). Literalmente, me dei esse tempo pra virar a página. E começo a perceber que talvez, 30 dias sejam suficientes pra minha organização interna. Os demais 30 dias virão pra me reorganizar externamente.


Porque sim, a nossa organização externa é algo tão complexo quanto a nossa organização interna. Internamente tive que ter paciência comigo mesma, que a princípio não queria comer, nem dormir, nem fazer nada que me lembrasse a perda. Tive de reconquistar passo a passo a calma e o bem estar.

Primeiro: Conseguir normalizar meu sono e apetite foram conquistas necessárias. E mais que bem vindas.
Segundo: Controlar minha ansiedade e manter a calma em situações de encontro.
Terceiro: Aliviar a angústia de estar só em diversas atividades da casa que eram feitas juntas.
Quarto e não menos importante: Voltar a realizar essas tarefas com vontade e um mínimo de satisfação.

Agora começo a vislumbrar o que vêm adiante. O externo. Ou entorno. As pessoas e situações à minha volta, afinal, sou uma mulher de 33 anos sozinha. Não tenho marido, nem filhos, nem ninguém morando comigo pra dividir tarefas, ou despesas ou ainda o tempo ocioso (por enquanto inexistente graças ao meu contínuo esforço em me manter ocupada). 

Ainda colocando o castelo em ordem vejo, da torre, as estradas e campos além da fossa que circunda minha construção. Antes tinha um nobre e fiel escudeiro que guardava meus portões com bravura.
Hoje, conto com um portão de ferro e uma fechadura tetra dupla. E com a companhia dos vizinhos que me cercam e me conhecem e farão algo se por desventura eu tiver problemas.

Mas sei que fora desse cerco estou a mercê de muitas coisas. Santa Teresa anda intranquila. O que me deixa intranquila. Sei que segurança é algo ilusório, mas sentir o perigo próximo é algo que descontrola a ansiedade. Se antes tinha dias em que ouvia barulhos estranhos, daqui pra diante minha audição ficará pior que de tuberculoso. Todo cuidado é pouco por agora e estou mais atenta que nunca!

Bom saber que tenho bons vizinhos que também me cercam. Assim como eu a eles, assim funcionamos desde a antiguidade. Comunidades que se protegem.

Senão será apenas "O céu que nos protege..." 




Buenas...

terça-feira, 12 de março de 2013

7º Dia

Diário do Eu sozinho  12/03/13

A missa


  Cântico de abertura






Sermão




 Homenagem 




Ao que fomos...
Hoje fica a saudade imensa de todo o companheirismo, carinho e afinidade que nos manteve unidos por todos esses anos. 



Obrigada por todos os dias em que esteve ao meu lado.
Em que foi o homem da casa e o senhor do castelo.


O amigo inseparável e o amante mais doce.


Por tudo que vivemos
Por tudo que sonhamos
Por tudo o que construímos
Por tudo que sacrificamos


Que nosso amor vá conosco onde formos E que ele não mais nos machuque, mas nos faça fortes e inteiros.Que em nossos corações ele se transmute e nos dê a paz necessária para sorrir.


Amém.

Cântico de encerramento



"In memorian"

Pukkinhos 
*10/01/2010 †05/03/2013 

Com amor, Ana Cândida.